terça-feira, 1 de julho de 2008

DEMOCRACIA?


Afirmamos com orgulho que vivemos em um país democrático. Estufamos nossos peitos e declaramos com júbilo “o Brasil é o céu da democracia”. Entretanto, na aula de Direito Constitucional (meu preferido!) sobre os direitos políticos, pude perceber que nem tudo são verdades nesse orgulho patriótico.
Ostenta a Carta Magna que “o alistamento eleitoral e o voto são OBRIGATÓRIOS para os maiores de dezoito anos” (artigo 14, §1°, I). Seria uma verdadeira democracia um regime político em que as pessoas são forçadas a votar?
Pela força da palavra – e como é tão pregado – democracia é a prerrogativa do povo de ter parte nas decisões do Poder. E isso pode se manifestar não só ativamente (voto e blábláblá), mas com o silêncio. “Ouxi, Daniel, como assim?”.
Tomemos por base as sociedades européias, em especial a francesa. Quando há escrutínios de qualquer ordem, a população tem a discricionariedade de ir votar ou não. Ressalte-se que se o candidato ou o tema da votação forem rejeitados pela sociedade, simplesmente há o boicote do pleito, ou seja, os amigos napoleônicos preferem ir aproveitar o dia em família às margens do Rio Sena.
Há de se falar que, obviamente, os extremos são nocivos sempre. Não quero defender o anarquismo nem ser ingrato com os ilustres guerreiros dos anos tenebrosos do governo militar, pois, afinal, grande parte da conquista do direito ao voto deve-se a eles. Contudo, há um paradoxo mortal que envolve a massa eleitoreira no Brasil: o povo quer votar, mas em sua maioria não sabe ou se omite da responsabilidade por necessidade ou por burrice. Trocamos nossa única (?) arma contra a politicalha a la Esaú pelas “lentilhas” do saco de cimento, da cesta básica “mono mensal”, por camisetas e abraços de senhores inescrupulosos e uma série de tantas outras barbáries que se fôssemos arrolá-las, não caberiam neste espaço blogueiro (anote-se também que isso foi e é causado pela má administração, pois o povo passa necessidades por culpa deles). Como corolário, agüentamos os rostos dissimulados por infinitos mandatos.
Virtualmente continuamos presos à sistemática de sempre manter os mesmos corruptos no poder. Talvez, se na próxima eleição simplesmente – em um ato corajoso e de grande influência - disséssemos um “basta” a isso tudo e deixássemos de comparecer às urnas, os nossos amigos do Poder sentiriam a responsabilidade de ter causado tamanha comoção em um povo tão sofrido e maltratado, que, fazendo uso escorreito do seu sufrágio, daria um relevante “tapa na cara” dessa corja.
Enquanto isso, os Titãs têm razão quando cantam “isso não prova nada, sob a pressão da opinião pública é que não haveremos de tomar nenhuma decisão; vamos esperar que isso caia no esquecimento e aí então faça-se a justiça.” (trecho de Vossa Excelência). E outubro já está às portas...

DANIEL SATHIERF

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